
ÁGUA: Uma questão para o mundo todo
Tal como no Nordeste brasileiro, há diversos pontos do mundo em que a escassez hídrica é motivo de êxodo da população e alvo de políticas públicas. Em termos globais, a oferta de água corre o risco de entrar numa crise profunda, pressionada cada vez mais pelo crescimento demográfico, pelas mudanças climáticas, pela contaminação de fontes e pelo desperdício. A crise é menos uma questão de insuficiência real, e mais de mau gerenciamento do uso dos recursos hídricos. A falta de água afeta não só a saúde humana, mas também o desenvolvimento socioeconômico da sociedade e o rumo das relações entre nações.
Diante do cenário em que a escassez hídrica atinge 11% da população mundial, a Unesco (entidade da ONU voltada para a educação, a ciência e a cultura) declarou que 2013 é o Ano Internacional de Cooperação pela Água. A iniciativa tem o objetivo de alertar para a necessidade de administrar melhor as fontes de água, que estão sendo afetadas pelo aumento do consumo e pelo uso desequilibrado desse recurso fundamental
Crise silenciosa
O planeta já enfrenta uma crise de abastecimento de água, apesar de isso não significar que o líquido esteja diminuindo. A água que circula por mares, rios e lagos, que está guardada nos depósitos subterrâneos e nas calotas polares, como gelo, ou que circula em forma de umidade pela atmosfera, tem um volume quase constante, que demora milhões de anos para ser alterado. Essa quantidade quase não se altera pois a água está em eterno processo de reciclagem natural: evapora, desaba como chuva, escorre para o fundo da terra e retorna para a superfície, de onde volta a evaporar, no chamado ciclo da água. Por isso, a água é um recurso renovável.
Afora uma pequena parcela que, quando desmembrada pelos raios solares em hidrogênio e oxigênio, deixa a atmosfera do planeta, a água que hoje usamos para matar a sede e para o banho é composta das mesmas moléculas que formaram os mares em que nadaram os primeiros peixes, as chuvas que molharam os dinossauros e o gelo que recobriu grandes partes do planeta nas eras glaciais. Mas um recurso renovável não se mantém, necessariamente, inesgotável e com boa qualidade todo o tempo. Tudo depende do equilíbrio entre a renovação e o consumo.
Existem fatores naturais que limitam o volume de água disponível para os seres humanos. Muitos povos vivem em zonas áridas, e mesmo regiões ricas em recursos hídricos podem passar esporadicamente por secas que afetam os mananciais. Isso sempre foi assim. A diferença, na situação atual, é que enfrentamos uma ameaça de escassez crônica de proporções globais cuja grande causa é a atividade humana. O consumo crescente e o desperdício, a contaminação dos mananciais e as alterações climáticas que a Terra está passando desequilibram a relação entre a oferta e a demanda de água doce em boas condições para o uso do ser humano.
Os especialistas reconhecem que muitos dados são pouco confiáveis e os números podem variar. Ainda assim, a estimativa sobre o volume de água potável a que o homem tem acesso apresenta valores bem aceitos na comunidade científica. Esses valores demonstram que, apesar de a Terra ter três quartos de sua superfície submersos, a parcela de água à disposição da humanidade é, em relação ao volume total, muito pequena.
Do total de 1,39 bilhão de quilômetros cúbicos de água que revestem o globo, apenas 2,5% são de água doce. Além disso, a maior parte da água doce não está ao alcance do homem – está congelada nas geleiras e calotas polares ou escondida em depósitos subterrâneos. A quantidade de água a que o homem tem acesso fácil – a superficial, de rios, lagos e pântanos – é de, no máximo, 0,4% da água doce existente no mundo. Contamos com isso para matar a sede, cuidar da higiene, gerar energia e produzir alimentos e bens industriais. No fim das contas, é água mais do que suficiente. Mas, segundo a ONU, uma a cada nove pessoas no mundo não tem acesso à água potável em quantidade necessária para garantir sua saúde, nem um padrão de vida que reflita um bom desenvolvimento social e econômico.